Uma dinâmica da cartografia Nambiquara: recente reordenamento territorial
Palavras-chave:
Cartografia Nambiquara, Terra Indígena Pirineus de Souza, Parque do Aripuanã.Resumo
Este estudo pretende apresentar os primeiros resultados da pesquisa de campo realizada entre os Sabanê, Tawandê e Idamalarê, grupos Nambiquara da Serra do Norte que atualmente habitam o Sul da Terra Indígena Parque do Aripuanã, localizada a Oeste de Mato Grosso, próxima à divisa com a Bolívia, em plena Amazônia Legal. Com o objetivo de discorrer sobre a dinâmica social dos referidos grupos que deixaram suas casas, roças e locais de caça, pesca e coleta existentes na Terra Indígena Pirineus de Souza para edificarem novas aldeias na Terra Indígena Parque do Aripuanã, aqui denominada Parque do Aripuanã, localizada em Mato Grosso e Rondônia, intensiona-se o entendimento dos indígenas diante à recente cartografia, conceito adotado em seu sentido lato. A pesquisa etnográfica, portanto, tem como base as narrativas indígenas que possibilitam experimentar um tratamento inédito à problemática estabelecida neste estudo. Narrativas, teias instigantes dessa forma discursiva que se caracterizam por serem fluxos de memória que revivem sentimentos, informam, esclarecem e até inventam para compor um novo desenho textual. Espera-se dar visibilidade àquilo que parece estar oculto e, assim, captar os possíveis significados de descrições minuciosas e propiciar um entendimento relativo ao processo de desapropriação do território Nambiquara e, consequentemente, como se configurou o retorno de uma parcela dos grupos indígenas Nambiquara da Serra do Norte para o Parque do Aripuanã. Na esteira teórica de Quijano (2005 e 2010), a fim de entender a dinâmica de ocupação do território de ocupação tradicional dos grupos Nambiquara da Serra do Norte, os não indígenas são entendidos como elementos que interagem com os índios e que exercem influência na sua ordem sociocultural, numa relação de “colonialidade”.
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